Olhos nos Olhos
Esta noite eu te desejo... Vou me preparar toda para você... Eu sei que gosta de me ver limpa e cheirosa. Depois deste banho quente e demorado, serei tua... Estás bem a minha frente, como eu sempre desejei. Sinto teu cheiro, dos lençóis onde se deita e sonha. Ao se levantar sempre me olhas, me desejas e me encara penetrando em minha alma. Hoje compreendi o amor que podes me dar... Então vou me vestir especialmente para que me dispas. Vou colocar uma lingerie confortável e excitante. Que me faça meio mulher, meio menina, como me sinto tantas vezes, mas quero me sentir mulher pela tua imagem, que me dará prazer. Oscilo entre a dúvida das cores branca, vermelha ou preta, mas prefiro o branco para ressaltar minha própria candidez e dar um tom de leveza ao meu corpo. Visto uma camisola longa de seda, cor preta, pois quando me despir tirando a escuridão de mim me trará uma paz e prazer, que se encontrará na intimidade da cor do pouco que ainda me cobrirá a pele.
Me deparo com tua imagem, e te olho profundamente, admiro esta beleza que reflete em minha alma e no meu corpo que começa a se eriçar. Só de vislumbrar me sinto bem com a beleza do corpo que me olha também. Sinto a pele se arrepiar como se fosse frio, e os poros criam pontinhos protuberantes na pele, os bicos dos seios se enrijecem como dois diamantes levemente róseos, e sinto-me molhada onde mais desejo que me toques, com um pulsar lânguido, onde o corpo faz osmose com o desejo. E olhando profundamente, penetrando-me com os olhos, vejo que vens a mim como que saindo de um refugio ou uma prisão, rompendo barreiras para penetrar em minha pele, inicialmente acariciando-a com uma maciez experiente de quem sabe onde, como e quando tocar. Levemente encosta o dedo no lábio inferior, que seco é umedecido pelo leve encostar da língua, que logo avança, rodeia e percorre o dedo e os próprios lábios. Então a mão desbrava leve e suave por pontos de meu rosto, descendo pelo pescoço acaricia minha nuca, levanta e se crava por entre os cabelos, toca os ombros, desce mais e sente a maciez enrijecida de meus seios, brinca com meus mamilos, que quase se encontram com o pressionar da outra mão, que agora percorrem juntas meu abdome lateralmente, se encontram em minha barriga, se demoram acariciando o ventre, e descem rapidamente, as mãos acariciam minhas pernas, sentem minhas coxas, afagam meus joelhos, e lentamente sobem, como uma escada para que leva ao céu, mas encontrou na verdade o paraíso. Agora são os dedos que se atrevem, viajam, dançam. Lascivamente sinto como se aqueles dedos se derretessem, dentro de mim e junto de meu corpo, que já transpirava, e ofegava, pelos movimentos que eram hora lentos, hora rápidos, fortes, circulares e penetrantes... Eu estava por entre eles. Por entre os dedos sentia minha vida evaporar... Refletiam todo o meu desejo, e na imagem de quem me possuía senti-me completa. Não preciso de mais ninguém. Como já sofri, mas um dia tentarei novamente, porem por enquanto você me basta. E explodo num grito, que nem fiz questão de abafá-lo, pois aquele toque me conhecia tão bem e me que fez sentir a maior de todas as sensações que meu corpo jamais provara antes, fechei meus olhos e não mais o encarei, apenas senti meu corpo... Desfaleci ofegante com as mãos na parede e voltei a contemplá-lo. Profundamente eu me olhava. E me bateu uma angustia, uma sofreguidão em meu peito. E as lágrimas vieram...
A solidão dói... Mesmo que este espelho reflita a imagem, de quão bela eu sou, e o quanto esta alma que se re-reflete deseja amar, sentir e fazer o amor. Narcisista morrerei pela ambição de minhas próprias mãos solitárias. Eu preciso de um amor-ser de verdade. Parar de fantasiar, e sozinha me proporcionar prazer, que busco tão elementarmente perdida no meu egoísmo e também medo de amar, tentar, sofrer novamente. Sozinha não consigo viver, por mais que eu me sacie comigo mesma... Dou um beijo no espelho e novamente volto profundamente a olhá-lo. Então agradeço por me fazer entender que a minha imagem somente não basta...
(Robson Anderson)
*Conto publicado na coletânea “Cuento Gotas VII” de autores da América Latina.
Foto: A. Brito “Quarto Minguante”
Esta noite eu te desejo... Vou me preparar toda para você... Eu sei que gosta de me ver limpa e cheirosa. Depois deste banho quente e demorado, serei tua... Estás bem a minha frente, como eu sempre desejei. Sinto teu cheiro, dos lençóis onde se deita e sonha. Ao se levantar sempre me olhas, me desejas e me encara penetrando em minha alma. Hoje compreendi o amor que podes me dar... Então vou me vestir especialmente para que me dispas. Vou colocar uma lingerie confortável e excitante. Que me faça meio mulher, meio menina, como me sinto tantas vezes, mas quero me sentir mulher pela tua imagem, que me dará prazer. Oscilo entre a dúvida das cores branca, vermelha ou preta, mas prefiro o branco para ressaltar minha própria candidez e dar um tom de leveza ao meu corpo. Visto uma camisola longa de seda, cor preta, pois quando me despir tirando a escuridão de mim me trará uma paz e prazer, que se encontrará na intimidade da cor do pouco que ainda me cobrirá a pele.
Me deparo com tua imagem, e te olho profundamente, admiro esta beleza que reflete em minha alma e no meu corpo que começa a se eriçar. Só de vislumbrar me sinto bem com a beleza do corpo que me olha também. Sinto a pele se arrepiar como se fosse frio, e os poros criam pontinhos protuberantes na pele, os bicos dos seios se enrijecem como dois diamantes levemente róseos, e sinto-me molhada onde mais desejo que me toques, com um pulsar lânguido, onde o corpo faz osmose com o desejo. E olhando profundamente, penetrando-me com os olhos, vejo que vens a mim como que saindo de um refugio ou uma prisão, rompendo barreiras para penetrar em minha pele, inicialmente acariciando-a com uma maciez experiente de quem sabe onde, como e quando tocar. Levemente encosta o dedo no lábio inferior, que seco é umedecido pelo leve encostar da língua, que logo avança, rodeia e percorre o dedo e os próprios lábios. Então a mão desbrava leve e suave por pontos de meu rosto, descendo pelo pescoço acaricia minha nuca, levanta e se crava por entre os cabelos, toca os ombros, desce mais e sente a maciez enrijecida de meus seios, brinca com meus mamilos, que quase se encontram com o pressionar da outra mão, que agora percorrem juntas meu abdome lateralmente, se encontram em minha barriga, se demoram acariciando o ventre, e descem rapidamente, as mãos acariciam minhas pernas, sentem minhas coxas, afagam meus joelhos, e lentamente sobem, como uma escada para que leva ao céu, mas encontrou na verdade o paraíso. Agora são os dedos que se atrevem, viajam, dançam. Lascivamente sinto como se aqueles dedos se derretessem, dentro de mim e junto de meu corpo, que já transpirava, e ofegava, pelos movimentos que eram hora lentos, hora rápidos, fortes, circulares e penetrantes... Eu estava por entre eles. Por entre os dedos sentia minha vida evaporar... Refletiam todo o meu desejo, e na imagem de quem me possuía senti-me completa. Não preciso de mais ninguém. Como já sofri, mas um dia tentarei novamente, porem por enquanto você me basta. E explodo num grito, que nem fiz questão de abafá-lo, pois aquele toque me conhecia tão bem e me que fez sentir a maior de todas as sensações que meu corpo jamais provara antes, fechei meus olhos e não mais o encarei, apenas senti meu corpo... Desfaleci ofegante com as mãos na parede e voltei a contemplá-lo. Profundamente eu me olhava. E me bateu uma angustia, uma sofreguidão em meu peito. E as lágrimas vieram...
A solidão dói... Mesmo que este espelho reflita a imagem, de quão bela eu sou, e o quanto esta alma que se re-reflete deseja amar, sentir e fazer o amor. Narcisista morrerei pela ambição de minhas próprias mãos solitárias. Eu preciso de um amor-ser de verdade. Parar de fantasiar, e sozinha me proporcionar prazer, que busco tão elementarmente perdida no meu egoísmo e também medo de amar, tentar, sofrer novamente. Sozinha não consigo viver, por mais que eu me sacie comigo mesma... Dou um beijo no espelho e novamente volto profundamente a olhá-lo. Então agradeço por me fazer entender que a minha imagem somente não basta...
(Robson Anderson)
*Conto publicado na coletânea “Cuento Gotas VII” de autores da América Latina.
Foto: A. Brito “Quarto Minguante”